1.
Enredo
Dom Casmurro foi publicado em 1900 e é um dos romances mais
conhecidos de Machado. Narra em primeira pessoa a estória de Bentinho que, por
circunstância várias, vai se fechando em si mesmo e passa a ser conhecido como
Dom Casmurro. Sua história é a seguinte: Órfão de pai, criado com desvelo pela
mãe (D. Glória), protegido do mundo pelo círculo doméstico e familiar (tia
Justina, tio Cosme, José Dias), Bentinho é destinado à vida sacerdotal, em
cumprimento a uma antiga promessa de sua mãe.
A vida do seminário, no entanto, não o atrai, já o namoro com
Capitu, filha dos vizinhos. Apesar de comprometido pela promessa, também D.
Glória a sofre com a ideia de separar-se do filho único, interno no seminário.
Por expediente de José Dias, o agregado da família, Bentinho abandona o
seminário e, em seu lugar, ordena-se um escravo.
Correm os anos e com eles o amor de Bentinho e Capitu. Entre o
namoro e o casamento, Bentinho se forma em Direito e estreita a sua amizade com
um ex-colega de seminário, Escobar, que acaba se casando com Sancha, amiga de
Capitu.
Do casamento de Bentinho e Capitu nasce Ezequiel. Escobar morre
e, durante seu enterro, Bentinho julga estranha a forma qual Capitu
contempla o cadáver. A partir daí, os ciúmes vão aumentando e precipita-se a
crise. Á medida que cresce, Ezequiel se torna cada vez mais parecido com
Escobar. Bentinho muito ciumento, chega a planejar o assassinato da esposa e do
filho, seguido pelo seu suicídio, mas não tem coragem. A tragédia dilui-se na
separação do casal.
Capitu viaja com o filho para a Europa, onde morre anos depois.
Ezequiel, já moço, volta ao Brasil para visitar o pai, que apenas constata a
semelhança entre e antigo colega de seminário. Ezequiel volta a viajar e morre
no estrangeiro. Bentinho, cada vez mais fechado em usas
dúvidas, passa a ser chamado de casmurro pelos amigos e vizinhos e
põe-se a escrever de sua vida (o romance).
2.
Personagens
3.
Análise
1) Dom
Casmurro é narrado em primeira pessoa pelo protagonista masculino
que dá nome ao romance, já velho e solitário, desiludido e amargurado pela
casmurrice, conforme lhe está no apelido. A visão, pois, que temos dos fatos é
perpassada da sua ótica subjetiva e unilateral: "tudo que sabemos do seu
passado, de seus amores, de Capitu, só o conhecemos do seu ângulo" -
observa o Prof. Delson Gonçalves Ferreira em estudo sobre Dom Casmurro. Em
consequência disso, paira dúvida sobre o adultério de Capitu - dúvida que não
se tem dissipado ao longo dos anos.
2) O romance , como já observamos, é construído a partir de um
flashback, por um cinquentão solitário e casmurro, "à la recherche
de temps perdu" ("à procura do tempo perdido"), o
qual procura "atar as duas pontas da vida" ( infância e velhice).
Perpassa. Pois, o romance uma atmosfera memorialista, dando a impressão de
autobiografia, a qual, com o se sabe, não tem nada a ver com Machado de Assis.
3) O título do livro ("Dom Casmurro") reflete uma das
características mais marcantes do protagonista masculino no crepúsculo da
existência: a visão amarga e doída de quem foi traído e machucado pela vida, e,
em consequência disso vai-se isolando e ensimesmando. "Não consultes
dicionários, Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe
pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para
atribuir-me fumos de fidalgo" (Cap. I).
4) O romance se compõe de 148 capítulos curtos, com títulos bem
precisos, que refletem o seu conteúdo. A narrativa vai lenta até o capítulo
XCVII, a partir do qual se acelera, como declara o próprio narrador, ao dar-se
conta da sua lentidão: "Agora não há mais que levá-la a grandes pernadas,
capítulo sobre capítulo, pouca emenda, pouca reflexão, tudo em resumo. Já esta
página vale por meses, outras valerão por anos, e assim chegares ao final"
(Cap. XCVII).
5) Assim, pois, até o capítulo XCVII, quando o narrador sai do
seminário, "com pouco mais de dezessete anos", focaliza-se, em câmera
lenta, a infância e a adolescência, dada necessidade do narrador traçar o
perfil dos protagonistas da estória (Bentinho e Capitu), revelando, desde as
entranhas, o caráter e as tendências de cada um: afinal, o adulto sempre se
assenta no pilar da infância, como insinua Dom Casmurro, no final da narrativa,
ao referir-se a Capitu: "Se te lembras bem da Capitu menina, hás de
reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca"
(Cap. CXLVIII).
6) Quanto ao lugar em que decorre a ação, trata-se do Rio de
Janeiro da época do Império: há inúmeras referências a lugares, ruas, bairros,
praças, teatros, salões de baile que evocam essa cidade imperial. Por outro
lado, há também ligeiras referências a São Paulo, onde foi estudar Direito o
ex-seminarista Bentinho, e também à Europa onde morre Capitu, e mesmo aos
lugares sagrados, onde morre Ezequiel (Jerusalém).
7) Cronologicamente falando, a narrativa decorre durante o segundo
Império, detendo-se mais o autor na inicia pela razão exposta no item 5.
Contudo, construído sob a forma de flashback; “o que domina no livro não é esse
tempo cronológico; é o psicológico, que se passa dentro das personagens, dentro
da própria vida”, observa o Prof. Delson Gonçalves. Debruçado sobre a
reconstrução da longínqua inicia de outrora, o solitário e magoado Dom Casmurro
vai reconstituindo o “tempo perdido” de sua existência, filtrando os fatos sob
sua ótica de cinquentão amargurado, revivendo a vida subjacente, que jaz nas
suas entranhas.